Dominique Gorini, de Petrópolis, ao desejar formar uma família, vivenciou diversos contratempos ao lado do seu marido, em virtude da dificuldade de engravidar, tendo passado por abortos, gestações tubárias e tentativas frustradas de fertilização in vitro. As dificuldades não cessaram quando partiram para a adoção de uma criança, pois surgiram os trâmites oficiais e a gestação legal fora mais longa do que uma biológica. No entanto, o que consegui extrair do depoimento da administradora de empresa é que mesmo diante das dificuldades, ela e seu esposo puderam fazer do seu lar um lugar repleto de felicidade: "Nossos quatro filhos têm o nosso DNA da alma, cada um com seus traços pessoais encantadores".
Por essa e outras é que a Campanha "Mude um Destino", instituída pela Associação dos Magistrados do Brasil vem obtendo tanto êxito. Porque investe no ser humano, e quero continuar crendo que o ser humano permanecerá sendo a maior descoberta do Terceiro Milênio.
Foram 20 lançamentos em 18 Estados, durante o ano de 2008 e depoimentos emocionantes foram a tônica dos encontros. O seu saldo foi algo bastante concreto: a sociedade se voltou para a adoção, não somente como um meio de suprir a carência de um casal ou de uma família, mas, sobretudo, para permitir que uma criança órfã encontre um lar que a acolha como membro. Os problemas enfrentados por meninos e meninas que vivem abrigados ou abandonados passam muitas vezes despercebidos pela sociedade. Através, porém, desse movimento da magistratura, a questão passa a ser politizada e, consequentemente, alvo de preocupação dos mais sensíveis às causas sociais e humanas.
Em quase todos os jornais e revistas da AMB que recebo, esse assunto é ventilado, e sempre contemplo, com satisfação, as atitudes dos meus companheiros diante de uma questão, para mim, tão sublime. Mas, o que mais me exulta é o fato de em plena era da cibernética e da eletrônica, cérebros pensantes da Nação se voltarem para o humano e para o espiritual.
E a luta que se iniciou entre os juízes termina por envolver vários outros membros da sociedade como Assistentes Sociais, Psicólogos, Defensores Estaduais e integrantes do Ministério Público. Todos passam a ser agentes multiplicadores do programa que, de uma forma simpática e até surpreendente, sai dos papéis e entra na vida, tanto dos próprios envolvidos quanto da sociedade onde estão inseridos. Sem dúvida, na prática de tão edificantes ações, estão a agradar a Deus.
Sabemos que o Senhor não precisa de nós. Nós é que precisamos da sua graça. Inclusive Chico Xavier, o mestre do espiritismo, em seus pensamentos edificantes, ensina que "todas as vezes que a Justiça Divina nos procura para acerto de contas e nos encontra trabalhando em benefício dos outros, manda a Misericórdia Divina que a cobrança seja suspensa por tempo indeterminado". É a execução do bem. É o exercício diário do desprendimento, da solidariedade e da partilha do amor que se concretiza no ato de se adotar e de se ser adotado. Inclusive, é bom que se esclareça que, na maioria das vezes, a ação beneficia mais o adotando do que o adotado. E o que de mais puro e belo "é o elo espiritual que se estabelece entre os envolvidos, tão visível e comovente. E cada vez que isso acontece, temos certeza de que o Deus existe" (Leôncio Câmara, quando juiz da Infância e Juventude).
O apelo para que se mude um destino é ambíguo. Na verdade, poderia ser: crianças que mudaram um destino! O próprio Jesus Cristo nos mandou acolher os pequeninos e, mais que acolher, advertiu que quem assim agir, o acolhe, na verdade. Existe maior bênção do que esta? Abramos, pois, o coração, para se tornar receptáculo de graças. E dentre as graças divinas, que podemos receber, se encontra aquela que nos foi passada exemplarmente por José, o carpinteiro. Tornando-se pai adotivo de Jesus, colaborou para mudar o destino da própria humanidade.